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COVID-24

Na beira do mundo​
Portão de ferro, aldeia morta, multidão​
Meu povo, meu povo​
Não quis saber do que é novo, nunca mais​
Eh! Minha cidade​
Aldeia morta, anel de ouro, meu amor​
Na beira da vida​
A gente torna a se encontrar só​

Casa iluminada​
Portão de ferro, cadeado, coração​
E eu reconquistado​
Vou passeando, passeando e morrer​
Perto de seus olhos​
Anel de ouro, aniversário, meu amor​
Em minha cidade​
A gente aprende a viver só​

Ah, um dia, qualquer dia de calor​
É sempre mais um dia de lembrar​
A cordilheira de sonhos que a noite apagou​

Eh! Minha cidade​
Portão de ouro, aldeia morta, solidão​
Meu povo, meu povo​
Aldeia morta, cadeado, coração​
E eu reconquistado​
Vou caminhando, caminhando e morrer​
Perto de seus olhos​
A gente aprende a morrer só​
Meu povo, meu povo​
Pela cidade a viver só​

OS POVOS

Milton Nascimento

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Com a pandemia iniciada em 2019, o vírus COVID-19 sofreu diversas mutações. Inicialmente levando diversas pessoas à morte por insuficiência pulmonar, tornou-se aos poucos um vírus  menos letal, que em contrapartida, deixa maiores sequelas. O COVID-24, uma mutação que teve seu primeiro registro em julho de 2024, em Nova Iorque nos Estados Unidos, gera inflamações no nervo óptico, deixando sequelas em quase todos os infectados tornando-os  deficientes visuais em maior ou menor grau. Tal mutação teve seu primeiro registro em terras brasileiras em agosto de 2024 em São Paulo, se espalhando rapidamente pelo o resto do país. Lembramos ainda, de outras mutações do vírus que assolaram o país deixando outros tipos de sequelas e incapacitando pessoas que passaram a ser deficientes, seja mental, motora, visual  ou auditiva.​ O caos gerado afetou todas as esferas da vida humana.

Dados fornecidos segundo as estatísticas do Censo Demográfico de 2010 (IBGE), demonstra que aproximadamente 46 milhões de brasileiros, ou seja, cerca de 24% da população, declaram-se com algum tipo de deficiência. Esse dado inclui também as pessoas que se declaram incapazes de ouvir, enxergar e andar (FGV, 2010). Destes, de acordo com o estudo realizado pelo IBGE, há 11,8 milhões de brasileiros com deficiência visual, dos quais cerca de 160 mil possuem incapacidade total de enxergar. ​

Em pesquisas mais recentes do Censo Demográfico de 2026 (IBGE), após a 10ª onda de COVID, aponta que o número de deficientes visuais teve um aumento desenfreado com a pandemia, chegando a cerca de 30% da população brasileira. Sendo que cerca de 50% da população se declara com algum tipo de deficiência (mental, motora, visual e auditiva) Destes, de acordo com o estudo realizado pelo IBGE, há 70,8 milhões de brasileiros com deficiência visual, dos quais cerca de 50 milhões possuem incapacidade total de enxergar. Além disso houve um êxodo rural e o crescimento da população urbana consequência da procura de assistência social devido às deficiências adquiridas.​

Diante dessa problemática com consequências nos mais diversos setores, viu-se a urgência de medidas de enfrentamento, tanto para lidar com novas possíveis pandemias como para proporcionar qualidade de vida aos afetados pelo vírus. O campo da arquitetura e urbanismo sofreu uma série de modificações para atender às mudanças bruscas de uma nova sociedade. Agora, em que se inicia o ano de 2028, passamos pelo caos e damos início a um período de reconstrução após a devastação, comemorando 2 anos sem mortes por COVID e o devido controle do vírus.​

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O princípio da arquitetura inclusiva teve seu início ligado à Segunda Guerra Mundial, onde veteranos de guerra, mutilados, não conseguiam exercer mais funções do dia-a-dia. Ficaram evidentes as barreiras arquitetônicas e os desconfortos das edificações. Após o fim da Segunda Guerra, surge à primeira padronização de acessibilidade nos Estados Unidos, cuja evolução derivou o conceito de Design Universal, produtos e ambientes que possam ser usados por todas as pessoas. ​

No Brasil, a arquitetura inclusiva chegou apenas na década de 1980, onde ocorreram transformações nas legislações e normas técnicas. Iniciando uma processo longo demorado em implantação, se tornando presente em diversos locais como: vias públicas, transportes coletivos, mobiliários urbanos e em edificações públicas. Atualmente, no mundo todo, todas a construção humana teve de ser revisitada e ressignificada, adaptando a nova realidade.​

A proposta de habitação social apresentada passa a considerar diversos fatores e variantes antes desconsiderados, sendo que metade dos usuários de qualquer edifício tem algum tipo de deficiência adquirida devido a pandemia. O modelo tem foco em atender predominantemente deficientes visuais e promover autonomia para estes a partir do domínio do espaço em que habitam, promovendo um ambiente com atenção à multisensorialidade. ​

O prédio contém 10 andares contando com o piso térreo. Os pisos vão de 0 a 9, se limitando à essa quantidade por sua representação numérica seguindo a geometria de duas células braille uma ao lado da outra. Na escrita braille os números sempre vêm simbolizados com um padrão de pontos de preenchimento do 3 ao 6, antecedendo uma letra do alfabeto braille (A a J) que correspondem aos números de 0 a 9.  Cada andar tem sua planta baseada no número do piso escrito em braille,  que são portanto duas células justapostas em que a primeira é padronizada e a segunda é mutável variando de acordo com os andares. Os pontos não preenchidos formam os espaços residenciais de tamanhos variados. Já os pontos de preenchimento delimitam espaços comuns, sendo estes espaços de circulação e de convívio. Na célula padronizada está localizada a área de circulação vertical e horizontal, já os pontos da célula mutável correspondem à espaços de convívio sendo estes jardins sensoriais, locais de diversão para cães guia, espaços de terapia ocupacional, brinquedoteca, musicoterapia, biblioteca, além de restaurantes, e locais de prática desportiva. Tais espaços, além de serem ambientes de convívio, acolhimento e estímulo aos demais sentidos do corpo humano,  têm como objetivo proporcionar um edifício autossuficiente para que os moradores possam, em uma emergência pandêmica, manter o isolamento com certa liberdade dentro do edifício.

A seguir o vídeo simula o percurso de entrada no edifício: caminhando na rua, entrando no pavimento térreo, chamando o elevador, subindo com o elevador, caminhando em um dos pavimentos superiores, sentindo a corrente de vento que passa pelo corredor de circulação horizontal, até chegar à grande janela e jardim sensorial com a vista para a cidade. O vídeo busca expressar a visão de um deficiente visual, mostrando apenas volumes, cores, barulhos e sensações durante  o percurso.

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